Apresentação sumária
Poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário, dramaturgo, tradutor e professor universitário, David Mourão Ferreira nasceu em lisboa em 1927. Licenciou-se em filologia românica em 1951. Seis anos mais tarde iniciou a carreira de professor universitário na Faculdade de letras da Universidade de Lisboa, atividade apenas interrompida entre 1963 e 1970 por motivos políticos. A sua carreira literária começou em 1945 com a publicação dos primeiros poemas na revista Seara Nova. Depois da revolução de abril de 1974 dirigiu o jornal “A Capital” e assumiu as funções de Secretário de Estado da Cultura no VI Governo provisório e nos I e IV Governo Constitucionais. Já nos anos 80 foi Presidente da Associação Portuguesa de Escritores e Diretor do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian. No Porto criou o Museu Nacional de Literatura. David Mourão Ferreira participou também em Programas de televisão como “Miradouro”, “20 poetas contemporâneos”, “Hospital das Letras”, e “Imagens da Poesia Europeia”. “As Quatros Estações”, “Nos passos de Pessoa”, “Um amor feliz” são algumas das obras de David Mourão Ferreira que morreu em Lisboa em 1996.
É uma figura que marca profundamente a 2ª metade do século XX na cultura portuguesa, muito em especial na Literatura e, mais especificamente, na poesia. É um dos nossos grandes poetas. É um homem com um profundo conhecimento da poesia portuguesa e também da poesia estrangeira incluindo os autores clássicos. É um grande tradutor de todas as fases da poesia europeia, de resto uma das suas obras mais conhecidas e reeditadas intitula-se “Imagens da Poesia Europeia”. É um agudo crítico literário com uma perceção muito apurada relativamente às várias modalidades de expressão poética. Como referiu a seu propósito Vasco Graça Moura “Na sua própria poesia ele combina todos esses conhecimentos acumulados de leitura e de prazer obtido no convívio com os grandes poetas, refinando tudo isso com uma grande sensibilidade e uma capacidade de utilização sensorial da palavra, que são extremamente características da sua poética. David Mourão Ferreira tem um apuramento técnico dos seus recursos como provavelmente mais nenhum autor do século XX português.”
Para além de tradutor de poesia e de grande poeta, este autor é também um extraordinário crítico literário e um excelente ficcionista. Em todos estes aspetos e também no ensaio deixou obras de uma grande importância quer nas suas análises de autores portugueses (é também um dos grandes críticos de Fernando Pessoa) quer em relação a grandes nomes da literatura estrangeira.
Em síntese, são muitas as razões que justificam que, por ocasião do 20º aniversário do falecimento de David Mourão Ferreira, a Biblioteca Pública de Braga promova uma exposição sobre o poeta, romancista, tradutor que se destacou como poeta contemporâneo do Século XX.
Equinócio
Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato
Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena
Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo
Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe
David Mourão-Ferreira, in do tempo ao coração
Bibliografia Ativa
A Secreta Viagem (poesia), 1950; 1958
Tempestade de Verão (poesia), 1954; 1960
Os Quatro Cantos do Tempo (poesia), 1958
Gaivotas em Terra (ficção), 1959; 1988
Vinte Poetas Contemporâneos, 1960; 1980
Aspectos da Obra de M. Teixeira Gomes, 1961
In Memoriam Memoriae, 1962
Infinito Pessoal ou a arte de amar, 1962; 1963
Motim Literário, 1962
O Irmão (teatro), 1965; 1988
Do Tempo ao Coração (teatro), 1966
Hospital das Letras, 1966; 1982
Os Amantes (ficção), 1968
Os Amantes e Outros Contos (ficção), 1968; 1996
Discurso Directo, 1969
Tópicos de Crítica e de História Literária, 1969
Cancioneiro de Natal (poesia), 1971
Matura Idade (poesia), 1973
Sobre Viventes, 1974
As Lições do Fogo (poesia), 1976
Presença da “Presença”, 1977
Acção cultural de Afonso Lopes Vieira, 1978
Órfico Ofício, 1978
Lâmpadas no Escuro, 1979
As Quatro Estações (ficção), 1980; 1996
Entre a Sombra e o Corpo (poesia), 1980
Ode à Música (poesia), 1980
Os Ramos Os Remos (poesia), 1985
Um amor feliz (romance), 1986; 2007
Duas Histórias de Lisboa (ficção), 1987
O Corpo Iluminado (poesia), 1987
O Essencial sobre Vitorino Nemésio, 1987
Marguerite Yourcenar: Retrato de Uma Voz, 1988
Nos passos de Pessoa, 1988
Obra Poética: 1948-1988 (poesia), 1988
Os Ócios do Ofício, 1989
Sob o Mesmo Tecto, 1989
Tópicos Recuperados: Sobre a Crítica e Outros Ensaios, 1992
Jogo de Espelhos: Reflexos para Um Auto-Retrato (poesia), 1993; 2001
Música de Cama (poesia), 1994; 1996
Bibliografia Passiva
Amaro, Luís. Bibliografia activa de David Mourão-Ferreira seguida de uma carta inédita, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, [sep. de Colóquio/Letras, 1997]
Brito, Marília Regina. O amor em David Mourão-Ferreira: da vida à poesia, Porto: Universidade Fernando Pessoa, 2002
Calado, Ana Sofia. Auto-representação em David Mourão-Ferreira, Lisboa: Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2004
Garcia, José Martins. David Mourão Ferreira: a obra e o homem, Lisboa: Arcádia, 1980
Garcia, José Martins. David Mourão-Ferreira – Narrador, 1ªed., Lisboa: Vega, 1987
Malheiro, Helena. David Mourão-Ferreira ou «a secreta viagem», Lisboa: Oficina do Livro, 2001
Malheiro, Helena. Os amantes ou a arte da novela em David Mourão-Ferreira, Lisboa: INCM, 1984
Marques, Teresa Martins. Clave de sol – chave de sombra: memória e inquietude em David Mourão-Ferreira, Lisboa: Âncora, 2016
Moura, Vasco Graça. David Mourão-Ferreira ou a mestria do Eros, 1ªed., Porto: Brasília Editora, 1978
Silva, Lucia da. David Mourão-Ferreira. Poète portugais, européen et citoyen du monde, Paris: L’Harmattan, 2005
Prémios ao Autor
Prémio Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores, 1996
Prémios à Obra
Grande Prémio de Ensaio Literário APE/PT, 1990 (Sob o Mesmo Tecto)
Grande Prémio de Poesia Inasset/Inapa, 1989 (Obra Poética: 1948-1988)
Prémio Jacinto do Prado Coelho, 1988 (Nos passos de Pessoa)
Prémio PEN Clube Português de Novelística, 1987 (Um amor feliz)
Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB, 1986 (Um amor feliz)
Prémio D. Diniz, 1986 (Um amor feliz)
Prémio Literário Município de Lisboa, 1986 (Um amor feliz)
Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, 1980 (As Quatro Estações)
Prémio Nacional de Poesia, 1971 (Cancioneiro de Natal)
Prémio Literário da Casa da Imprensa, 1965 (O Irmão)
Prémio Ricardo Malheiros, 1959 (Gaivotas em Terra)
Prémio Literário António Feijó, 1953 (Tempestade de Verão)
Fontes de informação
Dicionário cronológico de Autores Portugueses, vol. V, Lisboa, 1998
Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas http://www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores2.aspx?AutorId=8332 em 01/07/2016